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Património Cultural

RP - Revista Património Nº 6

RP - Revista Património Nº 6

Editorial da RP nº6

Nós não herdámos a Terra dos nossos antepassados, tomámo-la de empréstimo às gerações futuras. Foi com esta frase que Antoine de Saint-Exupéry bem sintetizou como deveria ser o posicionamento humano face aos recursos globais do planeta. Sendo a sustentabilidade um tema urgente e transversal, todos os nossos esforços para salvaguardar, valorizar e transmitir o património cultural serão em vão se não forem asseguradas as condições da sua continuidade, dependentes de múltiplos fatores que lhe são externos. A sustentabilidade sugere a qualidade em detrimento da quantidade, favorece a reutilização e a reciclagem, tenciona suprir as necessidades da geração atual sem comprometer as necessidades das gerações futuras, não esgotando os recursos para o futuro. A sustentabilidade na salvaguarda do património exige a sua desvinculação da sua condição de mercadoria e ao mesmo tempo o reconhecimento das múltiplas perspetivas na sua abordagem, holística e integrada. O património cultural é indissociável dos enormes desafios com que as sociedades hoje se confrontam, desde as alterações climáticas, à híper urbanização, ou ao crescimento incessante da mobilidade no planeta, entre muitos outros; é dentro desse quadro que deve ser entendida a relação entre património e sustentabilidade. Fazendo eco destas preocupações este número da RP reúne no seu Caderno um conjunto de artigos que abordam essa relação em diferentes perspetivas, projetando pistas para um futuro: uma reflexão sobre o sentido mais profundo das mensagens deixadas pelo Ano Europeu do Património Cultural 2018, na linha da Convenção de Faro sobre o valor do património cultural para a sociedade; noutro artigo, os desafios urgentes à ideia de um património em mutação, apontando pistas de transformação para manter a centralidade do património enquanto contributo para a sustentabilidade; a introdução ao «Loccimetro», gadget imaginário que nos conduz à reflexão sobre a nossa ligação aos lugares e ao património, onde se produz a apropriação simbólica que nos torna decisores responsáveis pelo mundo que nos rodeia; as profissões do património e a sua sustentabilidade, uma detalhada reflexão decorrente do trabalho efetuado no âmbito dos Planos de Cultura da Comissão Europeia; no âmbito do turismo cultural sustentável, projetos desenvolvidos na Finlândia, Irlanda e Portugal, no triângulo turismo, comunidades locais e património, mostrando que a chave de conexão entre sustentabilidade social, ambiental e económica é a sustentabilidade cultural; os museus e a sua íntima relação com a sua sustentabilidade são objeto de uma reflexão referida à realidade francesa, falando-nos de instituições culturais comprometidas que justificam a sua sustentabilidade através da preservação, da apresentação científica e da valorização dirigida a todos os públicos; por último, a investigação e a inovação no domínio da cultura e do património cultural são abordados no quadro da Agenda de Investigação e Inovação 2030 dedicada a este tema.

Pensamento traz-nos três temas: primeiro, uma referência a uma singular tipologia do património dinâmico, o património ferroviário, numa emotiva perspetiva pessoal, evidenciando a sua complexidade; de seguida, e como refere o seu autor, uma proposta de roteiro de observação e estudo do mobiliário contemporâneo, percorrendo as diferentes fases da vida dos edifícios e dos seus móveis, procurando um retrato diacrónico, ponto de partida para a sua valorização patrimonial; e, por ultimo, uma reflexão em torno do tema dos critérios e metodologias aplicados na reconversão de usos de espaços de culto católico em Portugal.

Em Projetos são apresentadas sete reflexões em áreas bem distintas: a intervenção de recuperação e restauro das fachadas do teatro Nacional São João, no Porto; a requalificação do Lu.Ca Teatro Luís de Camões, em Lisboa; o ensino do reúso de edifícios modernos, envolvendo estratégias de projeto colaborativas e inclusivas, através de um caso no âmbito do projeto Reuse of Modernist Buildings; a cor e o seu projeto na conservação do património urbanístico; a recuperação do edifício da Real Vinícola, em Matosinhos e a sua refuncionalização; a remodelação de armazéns para a instalação do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática em Xabregas, Lisboa; e uma reflexão acerca dos riscos em património construído, estudos desenvolvidos pelo LNEC no domínio dos sismos, da agitação e galgamento costeiro e dos incêndios florestais.

Opinião introduz-nos uma reflexão acerca da arquitetura, da cidade e do neoliberalismo, tendo como ponto de partida a exposição Public Without Rhetoric que representou Portugal na 16ª Bienal de Arquitetura de Veneza.

Por último, em Sociedade, duas reflexões: uma em torno da relação entre a fotografia, a arquitetura do território e as ligações surpreendentes e inusitadas que permite descobrir; e outra, o testemunho da Exposição Físicas do Património Português – Arquitetura e Memória, evidenciando, como refere o autor, a interseção estrutural da “arquitetura portuguesa” nas suas várias emanações e contradições, com as práticas e o debate patrimonial.

Manuel Lacerda – diretor da RP

Reference: IPPBREV19987801

Author: VV.AA.

Local: Lisboa

Edition: Direção-Geral do Património Cultural

Date: Nov. 6, 2019

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