Roteiros Turísticos do Património Mundial: Caminhos da Fé
No extremo sudoeste da Europa, encontra-se hoje um dos mais importantes santuários de fé católica e um dos maiores centros de peregrinação mundiais: Fátima.
A basílica mais antiga, inaugurada nos anos cinquenta, é dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Abre para uma grande praça onde se juntam os peregrinos aquando das datas mais veneradas, como acontece durante a espectacular “Procissão das Velas”. Consagra o local como ponto fulcral de experiência religiosa e abrange a Capelinha das Aparições, erguida junto à azinheira onde a Virgem apareceu aos três pastorinhos, segundo a narrativa do milagre.
A data de 13 de Maio de 1917, dia do primeiro evento milagroso – a primeira aparição da Virgem –, passou a ter um reconhecimento mundial. No extremo oposto foi inaugurada, recentemente, uma nova igreja dedicada ao Santíssimo Sacramento. É possível fazer um percurso pela geografia sagrada de Fátima, reconhecendo os locais onde diversos acontecimentos relacionados com o referido milagre tiveram lugar. Sabe-se, no entanto, que a veneração - ao que parece continuada- que os homens devotaram às divindades nesta região, e em particular às divindades femininas, se perde na imensidão dos tempos, havendo mesmo lendas pagãs que fazem remontar a períodos míticos - o “tempo dos Mouros” - a expressão mágica e miraculosa que acompanhou o povoamento da região. Assim acontece com a lenda da fada Oriana que deu nome a Ourém.
O cristianismo logrou focar este poderoso sentimento devocional, talvez com origens nas divindades agrárias femininas, na figura da Mãe de Deus, Nossa Senhora. A veneração a Santa Maria e os inúmeros lugares de culto a ela dedicados atestam esta permanência de um sentimento religioso que, de tão profundamente enraizado, ganha ainda maior força universal.
Um itinerário pelos lugares de devoção mariana é coincidente com os caminhos da fé e com as antigas rotas de peregrinação que, desde há muito, se foram aqui definindo. A começar por uma finisterra: Nossa Senhora da Nazaré. Os milagres de Nossa Senhora, protagonizados no século XII por uma personagem que parece encontrar-se “fora da História”, o cavaleiro templário D. Fuas Roupinho, foram reforçados pelos cronistas da Ordem de Cister. O culto consolidou-se na ponta da escarpa da Nazaré, transformando o lugar num dos mais significativos santuários marianos de Portugal, dos séculos XVII a XIX. Outros lugares exercem um idêntico fascínio, embora quase que silenciosamente recolhidos em devoções de carácter regional, marcando, todavia, uma riquíssima paisagem religiosa: Nossa Senhora de Reguengo do Fetal, Nossa Senhora da Ortiga, inúmeras fontes, outrora com virtudes curativas, ou os grandes monumentos, igualmente dedicados a Nossa Senhora, como a grandiosa Abadia de Alcobaça ou o Mosteiro da Batalha.
Algo que se sobrepõe, em filigrana, às narrativas históricas — mas também míticas — que forjaram a identidade desta região.
Referência: IPPBLIV10349050
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