RP - Revista Património, Nº 2
Editorial da RP2
Dando corpo aos objetivos enunciados no primeiro número, a RP 2 procura a atualidade do pensamento e a diversidade de perspetivas sobre o património cultural, colocando— o em debate. O caderno principal é dedicado à gestão do património, entendida num sentido lato, tratando diferentes âmbitos; longe de reunir consensos, é tema que suscita grande diversidade de questões, ampliadas pela vertiginosa velocidade das mudanças de paradigmas que hoje vivemos. Iniciando com uma reflexão sobre o sentido do património num tempo de incertezas,— «Patrimónios desamparados» —, o «Caderno» apresenta contribuições de responsáveis de entidades espanholas congéneres da DGPC, convidados a problematizar modelos de gestão do património a uma escala territorial alargada — o território como suporte patrimonial (caso da Comunidade Autónoma de Castela e Leão) e a uma escala da paisagem histórica urbana (caso de Sevilha).
Também no «Caderno» é explorado o tema da memória espelhada no espaço público das cidades — tratando a noçãode memória e a permanência dos elementos urbanos na sua relação com a identidade urbana. A dimensão estruturante da cultura e a cultura do pensamento estratégico na gestão e no planeamento são equacionadas em «O bom e o mau governo», tendo por base as alegorias de Ambrogio Lorenzetti. A gestão do património urbano, e a sua relação com a economia da cidade e com a própria subversão da natureza da reabilitação urbana são tratadas em «Reabilitação ou fraude». Colocando em confronto, num mesmo artigo, dois casos de estudo — o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, e o Museo Nacional del Prado, em Madrid —, são apontadas estratégias para o futuro, ancoradas nos percursos históricos de cada um dos museus mas também numa prática recente da sua gestão. «Património e intimidade» inicia a rubrica «Pensamento », contrapondo à visão clássica do património, como alternativa à sua crescente dimensão consumista, a integração de valores resultantes de uma avaliação intimista; na mesma rubrica, uma reflexão acerca do conceito de sustentabilidade do património numa tripla perspetiva — económica, cultural e ecológica — e uma revisitação da história recente das políticas culturais e patrimoniais em Portugal através de seis equipamentos culturais da nossa contemporaneidade — em «Arquiteturas da cultura: patrimónios do futuro».
A rubrica «Projetos» começa por apresentar aspetos metodológicos de duas intervenções em monumentos inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO geridos pela DGPC: uma síntese da última etapa do restauro da Charola do Convento de Cristo, em Tomar, e as intervenções da 1.ª fase de conservação e restauro das abóbadas do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. A pintura de Luca Giordano Extase de Sao Francisco pertencente à coleção do Museu Nacional de Arte Antiga, objeto de uma recente e profunda intervenção de conservação no Laboratório José de Figueiredo, da DGPC, é o motivo para o artigo que sintetiza todo o trabalho de investigação efetuado. O sentido da exposição O tempo resgatado ao mar, apresentada no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, é explicado através da descrição do processo do investigador de um arqueossítio de naufrágio, desvendando— nos esta vertente do património arqueológico. Ainda na rubrica «Projetos», dois artigos dedicados ao premiado Museu Marítimo de Ílhavo — um problematizando conceitos instrumentais relativos a projetos culturais em museologia marítima, e outro focando o processo de reabilitação, ampliação e expansão do Museu. Por fim, a narração pormenorizada do projeto de restauro e valorização do Castelo dos Mouros, em Sintra, resume o contributo e a articulação das diferentes componentes envolvidas num processo de intervenção programado, unitário e coerente.
Em «Opinião» e «Sociedade»: «Entre a memória e a criação » questiona formas de intervenção no património urbano, na atual época de transição e de globalização; «Património cultural ao serviço da sociedade» traz—nos um alerta para a necessidade de trocas e projetos comuns, justiça e equidade para a coesão social, económica, cultural e territorial; «Conta— me histórias» leva—nos a olhar para um mundo contemporâneo submerso em excessos de produção mediática, onde museus e monumentos podem encontrar pistas para intervir no universo digital; «Património cultural: entre o acontecimento e a comunicação» analisa a importância da criatividade aliada ao rigor científico, com recurso a meios de comunicação de massas, como hipótese para a difusão do património cultural, e, por fim, «Património imaterial: organizações e conceitos» reflete sobre a diversidade de sentidos atualmente conferidos ao conceito de património cultural imaterial. Através desta diversidade de temas e perspetivas, da sua atualidade e do cruzamento de saberes que reflete, a RP 2 pretende assim contribuir para a divulgação e para o necessário debate sobre o património cultural, atraindo um cada vez maior número de leitores.
Referência: IPPBREV14173001
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